quinta-feira, 21 de agosto de 2014

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 "É o meu adeus ao jornalismo! Vou ser uma mulher! Vou ter bebês, cuidar deles, ver os dentes deles nascerem e, se eles olharem para um jornal, eu os mato."


2# Rosalind Russell, Jejum de Amor



Entre as grandes estrelas hollywoodianas que não receberam Oscar de Melhor Atriz estão Barbara Stanwyck, Irene Dunne, Greta Garbo, Gloria Swanson, Deborah Kerr e Rosalind Russell. A última citada, hoje poderia ter um óscar de melhor atriz coadjuvante se não tivesse recusado ser indicada numa categoria secundária por Férias de Amor de 1955. Mas nem um Oscar de coadjuvante nem o honorário que recebeu apagam o erro que foi não tê-la indicado em 1940 por Jejum de Amor, um belo exemplar de comédia screwball com Russell e Cary Grant nos melhores momentos de suas carreiras. Nenhuma das performances de Russell indicadas pela Academia se compara a esse desempenho cômico inesquecível.

Howard Hawks, grande diretor, não teve Russell como primeira escolha para a personagem principal de Jejum de Amor. Atrizes como Jean Arthur, Carole Lombard, Katharine Hepburn, Joan Crawford, Ginger Rogers, Irene Dunne, Margaret Sullavan e Claudette Colbert foram convidadas para o papel e recusaram. Russell, finalmente escolhida, e não contente com o texto de sua personagem, dizendo que Cary Grant tinha falas muito melhores, contratou um escritor por conta própria para escrever suas falas. A interferência gerou uma Hildy mais chamativa e marcante. Mas não era só isso que a personagem precisava. A maior exigência aos atores é que eles conseguissem falar o mais rápido possível, em boa dicção e de maneira realista. Russell conseguiu achar o tom para fazer isso e acabou levando o truque para boa parte de seus filmes cômicos, o que muitas vezes não deu tão certo assim. Mas Russell não esgotou o filme com o fast-talking (fala rápida), ela soube usá-lo de maneira não exagerada e performática, numa performance que consegue ser sutil e expressiva ao mesmo tempo.


A personagem de Russell se chama Hildy e, como sugere o título original, é uma mulher "pau pra toda obra", que aceita, antes de se casar, fazer sua última matéria jornalística. Matéria inclusive que foi encomendada pelo seu ex-marido e editor-chefe do jornal onde trabalha. O editor é interpretado por Cary Grant, no mais sacana dos seus personagens cômicos, e sua maior intenção ao pedir a matéria a Hildy é interferir em seu casamento. E logo na primeira cena do filme percebemos a ligação forte que há entre o ex-casal. Russell inclusive foi capaz de transparecer a paixão de Hildy pelo ex-marido em diversas cenas, inclusive em cenas de telefone. Grant, meu ator favorito, com seu charme usual também soube complementar a química pré-estabelecida por Russell. A atriz também conseguiu demonstrar a relação morna que Hildy vive com o atual noivo, interpretado por Ralph Bellamy, o que fortaleceu a torcida pelo casal de jornalistas.

Como em toda boa comédia screwball, os acontecimentos vão sobrepondo-se uns aos outros, assim como a fala dos personagens, e coisas inimagináveis acontecem em apenas um dia. Jejum de Amor, logo no início anuncia: "Tudo aconteceu na 'Idade das Pedras' do jornalismo quando 'conseguir aquela matéria' justificava qualquer atitude do repórter. Não há semelhanças com o jornalismo de hoje.", e assim dá-se largada a um dia nas vidas de jornalistas "das antigas". E apesar de ser uma caricatura, há realidade em Jejum de Amor, que é sarcástico, sem nunca deixar de ser romântico, e que tem um final que fecha com chave de ouro o único trabalho de Russell com Grant e Hawks, mas o melhor de sua carreira e talvez a minha atuação feminina cômica favorita.




Menções Honrosas: A melhor performance dramática de Russell é na tragédia grega Conflitos de Paixão (1947), mas ela entrega boas atuações também no biográfico O Sacrifício de uma Vida (1946), por qual ganhou seu primeiro globo de ouro, e no romântico A Vida é uma Comédia (1946). No humor, Russell ainda arrasa em As Mulheres (1939) e em A Mulher do Século (1958).

Próxima Avaliada: Bette Davis.

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