terça-feira, 2 de setembro de 2014

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  "Àqueles que creem em Deus, não é preciso explicação. Aos que não creem, nenhuma explicação será suficiente."


4# Jennifer Jones, A Canção de Bernadette



Após receber o óscar de melhor atriz por A Canção de Bernadette, Jennifer Jones pediu desculpas a sua amiga Ingrid Bergman que concorria no mesmo ano por Por Quem os sinos Dobram e que talvez fosse a favorita daquele ano, visto que também protagonizou Casablanca, o vencedor do óscar de melhor filme. Bergman respondeu que a Bernadette de Jones era melhor do que sua Maria, e assim, no ano seguinte, recebeu o óscar por A Meia Luz das mãos da amiga. Mas a verdade é que nem uma nem outra performance de Bergman chega aos pés do que Jones fez em A Canção de Bernadette. Mesmo esplendorosa e inesquecível em sua não indicada performance em Casablanca, Jones ainda continua sendo a minha escolhida na categoria de melhor atriz em 1943 e uma das minhas favoritas da década de 40.

O mais inacreditável de tudo é que A Canção de Bernadette foi o filme de estreia de Jennifer Jones - nome artístico de Phylis Lee Isley, que demorou a ser notada por algum produtor, até que David O. Selznick se surpreendeu com um teste em que a própria deu como fracassado e que decidiu prepará-la para o estrelato indicando-a para viver Bernadette Soubirous no filme sobre sua vida. Henry King, designado a dirigir esta biografia, ficou embasbacado com o teste de Jones e dispensou centenas de atrizes que cobiçavam o papel. Jennifer Jones agarrou a sorte que conspirava a seu favor e se transformou completamente em Bernadette - famosa religiosa francesa que defendeu veemente a autenticidade das aparições de Nossa Senhora para ela em uma gruta de sua interiorana cidade natal. Sendo um filme biográfico e religioso, A Canção de Bernadette poderia facilmente cair num culto exagerado do catolicismo, mas nas mãos certas se transformou em um filme que é, acima de tudo, sobre fé. Mesmo assim, a Bernadette idealizada pelos roteiristas precisava de uma atriz moderada e delicada, pois é claro ver que, mesmo com Gladys Cooper, Vicent Price, Charles Bickford e Lee J. Cobb, o filme só consegue ser transparente e inspirador, porque Jones fez todas as escolhas certas possíveis. 

Eu já vi por volta de 10 filmes com Jennifer Jones e é fácil ver como ela é uma atriz inconstante, que consegue exagerar negativamente em uma performance, como fez em Duelo ao Sol (1946), assim como pode soar completamente apática e sem graça, como em Suplício de uma Saudade (1955), o que torna sua atuação em A Canção de Bernadette ainda mais surpreendente. A atriz parece apaixonada por sua personagem, o brilho no olhar, as lágrimas completamente naturais, o tom de voz sempre simplista e etéreo demonstram uma ligação muito forte entre a atriz e a personagem. O resultado é uma performance completamente marcante, da qual não dá para se ficar indiferente. Posso dizer que Jones conseguiu cativar a ateus e cristões, transformando um filme problemático, tanto por algumas atuações quanto por suas próprias intenções, em um filme honesto e apreciável durante as suas quase três horas de duração.

Meu momento favorito no filme é o embate entre Bernadette e a irmã Maria Tereza, que sempre maltratou e invejou Bernadette. Jennifer Jones e Gladys Copper dão um show de atuação. O ódio contido no olhar e na voz da irmã má, sendo ofuscado pelo brilho nos olhos da pura Bernadette é acachapante. Eu realmente não sei como essa cena não se tornou um ícone da atuação, ela é fora do sério. Sem contar toda a sequência final que emociona e convence. Jennifer Jones deu uma das melhores atuações oscarizadas da história, mas é pouco reconhecida por isso, o que é uma grande pena.




Menções Honrosas: Ainda não vi nenhuma atuação de Jones a nível de A Canção de Bernadette, mas gosto de suas performances em Desde que Partiste (1944) e em Coração Indômito (1950).

Próxima Avaliada: Ingrid Bergman.

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