segunda-feira, 1 de setembro de 2014

3#

  "Gosto do meu visual. Eu me sinto bem. E as mulheres gostam, caramba! A única coisa que faço bem é amor. As mulheres ficam loucas comigo. É verdade."


3# Jon Voight, Perdidos na Noite



Jon Voight é atualmente conhecido por ser pai de Angelina Jolie, atriz americana que superou a fama do pai se tornando uma das maiores estrelas hoolywoodianas. O que muitos não sabem é que Voight é muito mais do que apenas pai de Jolie, ele é um dos atores que ajudou a mudar o cenário dos anos 60, época em que prevaleciam alguns vícios teatrais das décadas anteriores. Seu primeiro grande papel no cinema foi justamente o seu melhor, o wannabe caubói Joe Buck do vencedor do Oscar de Melhor Filme Perdidos na Noite.

Voight começou com o pé direito em Hollywood, em um personagem complexo de um filme revolucionário que angariou prêmios para si e para ambos os atores protagonistas. John Schlesinger, o diretor, queria para Buck um ator que transparecesse ingenuidade, chegando até a recusar a oferta de Warren Beatty, já estrela na época, de viver o papel. A verdade é que Jon Voight fez de Joe Buck um personagem tão seu que é impossível imaginar qualquer outro ator, do calibre que for, no mesmo papel. Mas Voight não seria o único protagonista de Perdidos na Noite, o personagem do que se tornaria melhor amigo de Joe Buck também exigia um ator engajado. Após ser recusado por Robert Blake, Dustin Hoffman assumiu o papel, e melhor escolha não poderia ter sido feita, já que Hoffman entregou uma das melhores atuações da história do cinema. Ele e Voight correram muitos riscos em suas personificações, visto que ambas as personagens poderiam facilmente ser irritantes, já que Buck possui expressões de ingenuidade viciadas e o coxo vivido por Hoffman poderia facilmente cair na caricatura, mas que com os devidos cuidados se transformaram em personagens admiráveis e realistas. Com tantas qualidades em um único filme, é claro ver o porquê de este ser o único filme com classificação adulta a vencer o Oscar.

O filme começa com Joe Buck deixando sua cidade no Texas para ir tentar a vida como garoto de aluguel em Nova Iorque. No caminho, esbanja uma simpatia inocente com os passageiros que o acompanham no ônibus, além de não largar um radinho velho onde escuta música country e notícias de sua futura cidade. Buck possui uma ingenuidade que chega a ser comovente. Ele se imagina o tempo todo como uma cópia de John Wayne, ao mesmo tempo em que admira um pôster de Paul Newman em O Indomado. Decidido a ser um michê, ele sai a caça de clientes, e em seu primeiro programa, já é trapaceado por uma madame, que consegue inclusive lhe tirar dinheiro. Decepcionado com os rumos que sua vida está tomando em Nova Iorque, ele cai na conversa de um ladrão baixinho, sujo e coxo que lhe promete apresentar um gerenciador de garotos de aluguel. É assim que descobrimos mais e mais da vida de Buck, suas frustrações com a família, com as mulheres e com religião. Ele é confuso com toda sua vida e seus sentimentos, confuso até em relação ao seu estilo. Mas mantendo a pose de caubói marrento, ele vai atrás daquele coxo trapaceiro que lhe passou a perna, o Ratso. Ratso era um homem tão solitário que não usou Buck apenas para ganhar um trocado, mas também para ter um amigo, já que viu em sua ingenuidade uma oportunidade para receber o que ele nunca recebeu e também nunca pode dar - afeto.

A relação de Buck e Ratso é genial, uma construção de amizade que o roteiro preparou que não era esperada no começo do filme, mas que é completamente plausível. E ambos os atores, que até então pareciam mais preocupados com a criação de seus personagens, Voight na ingenuidade involuntária de Buck, e Hoffman na esperteza sem muito resultado de Ratso, passam a investir numa química difícil de criar que é a amizade entre os personagens, que guarda certo afeto, mas que mantem um distanciamento. A partir daí, tudo o que os personagens fazem, eles fazem juntos, os planos e sonhos de ambos passam a se encontrar de maneira muito interessante.

O filme ainda brinca com a provável homossexualidade de Joe Buck, que possui certo brilho no olhar com o mundo da noite, chegando até a fazer programa com homens, onde demonstra certa agressividade. Sem contar o possível amor que guarda calado de Ratso e que gera um dos finais mais comoventes da história do cinema. Perdidos na Noite é uma obra-prima, e tão é as performances de Dustin Hoffman e Jon Voight, e que por ironia do destino, perderam o Oscar para John Wayne em Bravura Indômita. Uma Pena!




Menções Honrosas: Jon Voight está igualmente genial em sua premiadíssima performance em Amargo Regresso (1978). Sem contar sua comovente parceria com o ator mirim Ricky Schroder em O Campeão (1979), e com Burt Reynolds no inesquecível Amargo Pesadelo (1972).

Próximo Avaliado: Gene Wilder.

Nenhum comentário:

Postar um comentário