sexta-feira, 22 de agosto de 2014

3#

  "Mas não demorou muito para eu perceber o meu erro. E eu não aguentava nem olhar para você. Não suportava que encostasse em mim. Achava-o tão fraco e tolo."


3# Bette Davis, Pérfida



É verdade que a melhor performance de Bette Davis é em A Malvada de 1950, e também esse é seu melhor filme. Mas o que acrescentaria eu resenhar essa performance aqui no blog se Bette Davis é primeiramente reconhecida por ela? Resolvi escolher a performance que considero sua segunda melhor e que se encaixa perfeitamente no projeto do blog, que é escolher 500 performances essenciais. Muita gente pensa instantaneamente em O Que Terá Acontecido a Baby Jane? quando se fala na segunda melhor performance de Davis. Tudo bem que ela está genial de Baby Jane, mas Regina Giddens de Pérfida me deixa muito mais vibrante sempre que revisito o filme.

Mas antes de falar de Pérfida, vamos falar de Bette Davis, tida por muitos como a melhor atriz da história. Em 1934, Bette Davis estrelou seu primeiro grande sucesso de crítica e público, Escravos do Desejo, mas não foi considerada pelo óscar daquele ano. A não indicação da nova estrela gerou um burburinho tão grande que levou, de repente, à Academia se sentiu obrigada a abrir uma exceção, e nomes não indicados puderam ser considerados, o que gerou uma indicação não oficial a Davis. Apesar de Davis ter trazido frescor e novidade a Hollywood, esse acontecimento faz pouco sentido para mim atualmente, visto que sua atuação em Escravos do Desejo é bastante datada e exagerada. No ano seguinte a atriz ganhou seu primeiro óscar por Perigosa, em que também esteve abaixo da média, onde a mesma demonstrou descontentamento, alegando que Katharine Hepburn esteve melhor em A Mulher que Soube Amar. Em 1939, Davis conquistou um óscar realmente merecido. Sua deliciosa atuação em Jezebel foi sucedida por outras brilhantes atuações até chegar 1941, e com ele Pérfida, seu melhor filme e atuação durante muito tempo.

Muitas vezes, peças de teatro tornam-se filmes, e as atrizes que as interpretavam nos palcos são consideradas para as telas, mas em outros casos, os estúdios preferem que estrelas de maior importância no mercado ocupem o papel. Em 1951 Vivien Leigh viveu Blanche DuBois em Uma Rua Chamada Pecado, papel de sucesso vivido por Jessica Tandy na Broadway. Tandy foi considerada para papel, mas os produtores preferiram uma atriz mais conhecida pelo público de cinema. Em Pérfida, aconteceu parecido, William Wyler, o diretor, optou por sua queridinha Bette Davis e o produtor não teve como argumentar, já que Tallulah Bankhead - ótima atriz que viveu Regina Giddens nos palcos, nunca tinha protagonizado um sucesso de bilheteria. Não podemos dizer que em nenhum dos casos foi injustos, já que o cinema ganhou duas das maiores performances da história. Com Pérfida, Davis dava continuidade a sua saga de vilãs, mas nenhuma personagem da atriz foi tão fria e calculista como Regina Giddens.


O filme conta a história de uma família do início do século XX tentando conquistar riqueza e liberdade. Regina orquestra um plano de abrir, junto com seus irmãos, uma fábrica de algodão, usando para isso as economias do marido, que recusa a se associar aos irmãos da mulher. O conflito entre o casal principal gera as melhores cenas do filme. Davis consegue dar uma sinceridade ímpar para sua personagem. As risadas, os carões, a expressão corporal e o tom de voz da personagem esclarecem bem seu caráter, sua personalidade e a situação em que vive. Regina nunca desce do salto, nem para dizer ao marido que sonha em vê-lo morto. E por mais fria que Regina seja, Bette consegue dar profundidade a personagem. Em cenas como em que a personagem lembra-se de sua infância, do desprezo do pai e do que a levou a casar sem amor, a atriz encontra o ponto certo para dar complexidade a Regina e fazer dela um personagem interessante de se avaliar.

Outras coisas são importantes de comentar. Primeiro é a relação de desprezo que ela estabelece com a sua cunhada, mulher de bom coração. Regina sempre debocha dela, seja com palavras ou apenas com risadas ou expressões de descontentamento. Segundo é a cena da escada em que a filha de Regina a confronta, a melhor cena do filme em que Davis e Teresa Wright dão show. E terceiro, e não menos importante, é sobre os figurinos que Bette usou para interpretar Regina. Um mais lindo do que o outro. Vestidos, luvas, chapéus e penteados inesquecíveis. Bette Davis nunca esteve tão linda. São a cereja do bolo de uma performance sensacional.




Menções Honrosas: Além de A Malvada (1950) e O Que terá Acontecido a Baby Jane? (1962), Davis também está ótima em Lágrimas Amargas (1952), Tudo Isto e o Céu Também (1940), Jezebel (1938) e A Estranha Passageira (1942).

Próxima Avaliada: Jennifer Jones.

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